terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O vôo do Condor

Infelizmente, tudo que é bom acaba logo. Como disse Albert Eisntein, famoso físico, ao explicar para leigos o sentido da teoria da relatividade: "O que é a teoria da relatividade? Imagine como o tempo voa quando você está ao lado da garota que ama. Depois, uma outra situação, em que você está fazendo uma atividade que não lhe agrada e o tempo não passa nunca". Pois é, aplicamos essa teoria não somente aos complexos equipamentos e aparatos do nosso dia a dia, como o GPS que usamos no carro, satélites que orbitam a Terra, e tantos outros. Mas também aos momentos mágicos e singulares que vivenciamos.
Intitulei essa postagem de O Võo do Condor porque, como foi citado por mim no início das postagens, tive desde que nasci uma estreita relação com  a aviação e essas fotos que tirei, juntamente com algumas filmagens que fiz, são realmente de tirar o fôlego. Nosso vôo saía as oito da manhã e, se tratando de uma viagem internacional, saímos por volta das seis horas da manhã do hotel. Tudo para evitar percalços até o aeroporto e, principalmente, dissabores no embarque. Ainda no dia anterior recebo uma mensagem do meu pai por e-mail me avisando:  Ao fazer o check in peça para ficar do lado esquerdo da aeronave. Senão você nao conseguirá ver a Cordilheira dos Andes. Uma dica valiosa...
Em razão dos fortes ventos que cruzam a cordilheira, mesmo em condições meteorológicas ideais, é necessário após a decolagem, atingir uma altitude mínima em torno de 25.000 pés (aproximadamente 7.600 metros) antes de iniciar uma curva para esquerda (leste) em direção aos Andes. Para quem não é muito bom em localização espacial imagine o continente sul americano e a rosa dos ventos com o norte, sul, leste e oeste. Depois, entre nesse mapa (mentalmente é claro!!) e visualize a cordilheira que estará a sua direita quando você entrar. Depois dê uma volta de 180 graus  (sul) como se estivesse olhando para o rodapé da figura e a cordilheira estará ao lado do seu ombro esquerdo. É nessa proa ou rumo que decolamos.
A aeronave era a mesma da partida em Porto Alegre no dia 06/02. Nossa, dia 06 de fevereiro! Dez dias se passaram?? Olha aí a teoria da relatividade em ação! É cientificamente comprovado que algumas pessoas, em razão da maior ou menor atividade de determinadas áreas do córtex cerebral, tem uma enorme dificuldade de localização no espaço e visualização 3D. Como exemplo clássico e, por motivos de evolução da nossa espécie, podemos citar as mulheres, que em outras atividades nos dão de 10X0 (como identificar um fio de cabelo na sua camisa a 100 metros de distância por exemplo). A imagem da América do Sul acima pode dar uma força nesse exercício. Quanto a localizaçao da Cordilheira dos Andes, quem não fugiu das aulas de geografia da escola certamente saberá.
Voltamos a decolagem, ou melhor, ao võo do Condor. Esse pássaro foi e é venerado por todos os povos que povoaram os altiplanos andinos desde a época pré colombiana. Com suas grandes asas, um vôo caractérístico, macio, cadenciado e marcante, com  a ponta das asas elevadas como se fosse uma mão com os cinco dedos, sempre encantou os nativos. Por isso, muitas lendas, pinturas rupestres, geogrífos e artefatos indicam uma especial predileção e devoção por esse animal desde os tempos mais remotos.

 Retornemos ao vôo. Saímos cedo do hotel, uma lua cheia, enorme, com um céu livre de nuvens, dava sinais de que o tempo estaria perfeito para fotografar o momento do sobrevôo da cordilheira. Certifiquei-me de que estava devidamente embarcado no lado esquerdo e o nível de ansiedade começou a elevar-se. Acho que para qualquer pessoa amante da natureza e das belezas naturais, ter a oportunidade de sobrevoar uma cadeia montanhosa desse porte, é uma experiência inesquecível. Agora imagine para um geólogo/geofísico, amante das ciências da Terra, conhecedor dos processos colossais que lentamente, e inexoravelmente criam, aniquilam as paisagens e também a vida...sem comentários!
É  magnífico quando avistamos algumas feições de grande altitude! Geologando um pouco, algumas feições típicas originadas de processos como avalanches, erosões dos rios, transbordamento em épocas de grande degelo são destacadas de forma quase didática a grandes distâncias. Uma coisa de livro mesmo. Digo isto porque quando nos encontramos em trabalhos de campo, sol na cabeça e muito morro para subir, é difícil de se reconhecer tais feições indicadoras. Somente através da observação do solo, tipos de rochas, podemos determinar que em certo local existe uma acumulação dessa. Para quem não sabe, toda essa preleção que parece coisa de cientista maluco, é fundamental na descoberta e identificação de depósitos minerais, reservatórios de água, petróleo, gás e de toda matéria prima essencial ao que desfrutamos nesse mundo moderno. Desde medicamentos, instrumentos cirúrgicos até o microprocessador de silício que permite meu notebook operar com extrema eficiência neste momento. 
Voltando a vista espetacular a grande distância desses elementos, eu gosto de usar essa breve explanação para as agruras, tristezas, angústias e certas atitudes da nossa vida. Quando um problema parece ser insolucionável, procuremos tirá-lo da proximidade do nosso nariz e fazer um sobrevôo. Somente o distanciamento nos trará uma visão global do "abacaxi" trazendo, depois de muita calma, a tão esperada solução e saída. Uma relação geológica/filosófica. Ciências da Terra também está intimamente ligada ao nosso ser e nossas questões existenciais. Para concluir essa enorme decolada que eu dei agora. A ciência que conhecemos hoje, de forma segmentada e classificada em áreas e especialidades afins surgiu somente em meados do século XIV e XVII com o renascimento e juntamente com o entendimento de que processos extremamente organizados e precisos formavam tudo que conhecemos. Ou seja, se esses processos fossem desvendados, seria encontrada a chave para desvendar todos os mistérios do universo. Infelizmente não é bem assim. Até hoje, parafraseando Albert Einstein, "tudo que sabemos é uma gota em um oceano de mistérios". Mas em grande parte da história, desde a Grécia antiga, filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles, sentados com seus discípulos nos jardins, embasavam suas idéias e concepções observando o mundo natural que os circundava, como as montanhas, fósseis, rochas e minerais. 
Portanto, uma geologada/filosofada não é nada de absurdo. Justamente o contrário. É saudável, impossível de ser evitada e completamente justificada nesse momento.

Fiz duas filmagens, uma logo na decolagem de santiago do Chile onde é possível se observar as primeiras formações montanhosas que antecedem a Cordilheira propriamente dita. A segunda filmagem, registra exatamente o momento, após atingir a altitude de segurança, que a aeronave muda sua trajetória para leste (olha o exercício do mapa!). Infelizmente as filmagens ficarão para outra postagem. Seguimos com as fotos. Acho que elas falam por sí próprias.




Aconcágua!




Olha os processos de erosão e sedimentação!


Um comentário:

  1. Viajei na tua viagem! O estilo da descrição, indo e vindo, da imagem a reflexão íntima e científica. Muito legal, Parabéns!

    Ah, a foto que tirei do Rex, vai por mail.

    Lislair

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